COLUNISTA
Talita Sampaio
Brasileira, designer, jornalista e militante por um Brasil direito.
O SONHO DE TALITA
Ser Filósofo
por Talita Sampaio
28/04/2019
Nasci e cresci em casa de filósofo. O cenário era bem parecido com o do Olavo de Carvalho, com estantes cheias de livros sobre os mais diversos assuntos, sem falar de todos os livros de pensadores famosos de todas as épocas. Não sei desses detalhes na casa do Olavo, mas na minha, a música clássica era o som habitual, e por todas as paredes haviam quadros de artistas brasileiros colorindo nossa casa.
Diz a história da família que meu pai se descobriu filósofo ao passar um tempo em Paris, onde completava seus estudos em Engenharia Eletrônica (ITA). Chegou a pensar em largar a engenharia para se dedicar exclusivamente a filosofia, mas só não o fez a pedido da minha avó, a Sra. Maria da Paz, que em seu modo de ver a vida não o levaria a voos muito altos. Melhor seria terminar a engenharia e ter um trabalho certo, e deixar a filosofia como hobby. Assim ele o fez, e graças aos conselhos da Vozinha teve bons empregos e pode nos dar uma vida digna e uma ótima educação.
Meu pai era tão estudioso e obstinado que em certa altura da vida, o que seria seu hobby tomou todo seu tempo e dedicação. Escreveu livros sobre filosofia, cultura, dialética e até física quântica, além de ter ressuscitado e ser presidente da Academia Brasileira de Filosofia. Chegou a dar aulas de filosofia numa famosa universidade pública, mas... Ele NÃO tinha um diploma de filósofo. Daí, ao contrário do que fez Olavo de Carvalho que simplesmente ignorou a necessidade de ter um, meu pai cismou que precisava de um diploma. Queria ser oficialmente reconhecido como um filósofo brasileiro, principalmente por aqueles que comandavam as instituições. Ele tentou de tudo, entrou com vários processos, teses, dissertações, falou com um, com outro, reitores, ministros, acho até que com o Papa, mas de nada adiantou.
“Tire o dinheiro de um homem, mas não lhe tire o poder.” Acho que essa frase define bem o que aconteceu. Imagine só o medo que os “detentores da verdade brasileira” tiveram. Meu pai certamente seria uma ameaça a eles. Se dessem um diploma de filósofo honores causa a um homem de pensamento original, em pouco tempo ele tomaria o lugar daqueles papagaios.
E assim, após a segunda ou terceira negativa, meu pai desistiu. Ficou tão triste e decepcionado que desenvolveu um câncer, se entregou e faleceu em três meses. Sua obra está agora esquecida, ninguém dá bola. Enquanto isso o mesmo grupinho se mantém no controle do pensamento em seu pedestal intocável (de viés esquerdista, é claro).
Queria que meu pai não tivesse desistido da vida e estivesse hoje aqui aproveitando as maravilhas da internet. Certamente iríamos ver debates incríveis em lives acaloradas entre ele e Olavo. Não estou certa de que estariam alinhados, mas que seria um show de cultura e pensamento original, isso seria.
Em resumo, quem quer ser filósofo não precisa de uma faculdade de filosofia, basta meter a cara em milhares de livros e deles formar o seu próprio pensamento original. Mas se quiser ter um diploma, nunca, jamais ouse de destacar ou fazer algo diferente do script.
Quanto ao posicionamento do atual governo, acho que é bem parecido com o pensamento da minha Vozinha e eu vejo uma certa razão, isso se formos analisar o que foi dito pelo Ministro e não o que foi noticiado nas mídias. READEQUAÇÃO DE VERBAS foi dito. ACABAR com as universidades de filosofia e sociologia, foi noticiado. Nem preciso me dar ao trabalho de explicar a diferença, imagino, mas uma coisa é certa, se os filósofos brasileiros entrarem em greve, ninguém notará, assim como ninguém, até hoje notou a falta do meu pai, o FILÓSOFO Luiz Sérgio Coelho de Sampaio.
Para saber mais quem foi Luiz Sérgio Coelho de Sampaio: http://www.culturanova.org.br
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